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Aventura urbana: um test-drive com o Argo Trekking

Esse aí nas fotos e no vídeo (acima) é o Argo Trekking 2020, opção incrementada da versão intermediária Drive 1.3

do hatch mais caprichado da Fiat. Tive a oportunidade de conviver com ele durante uma semana e, a seguir, em texto, fotos e vídeo, conto para você como foi a experiência.

A moda dos carros aventureiros ganhou força, mesmo, lá dos meados para o final da primeira deste século. Eles costumam ter suspensões e pneus que os deixam mais altinhos e alguns detalhes de acabamento para diferenciá-los das versões “normais” da linha. Um pouquinho depois, os SUVs propriamente ditos acabaram tomando o mercado e jogando essas versões – geralmente de modelos hatch – num segundo plano. Mas como costumam custar menos que os SUVs, quase todas as montadoras instaladas aqui no Brasil continuaram colocando um deles no cardápio e o número de concorrentes é grande. De cabeça, me lembro de Mille, Uno e Palio Way, também da Fiat; Renault Sandero Stepway, Ford Fiesta Trail e Ka Freestyle, Hyundai HB-20 X, Toyota Etios Cross, Chevrolet Onix Active, VWs Gol Track e Crossfox, Honda WRV… e a lista vai longe. E, quer saber? Nada contra, mas confesso que nunca fui particularmente atraído por esse estilo, que costuma ter mais prepardo visual que prático para aventuras.

Pois bem, o Argo Trekking é o mais novo integrante dessa turma de hatches altinhos aí. Ele tem todos os ingredientes clássicos da receita urbano-aventureira: molduras plásticas nas caixas de roda, suspensão (3cm) mais alta, pneus de uso misto para terra e asfalto e uma série e itens exclusivos de acabamento – como faixas e logomarca – aplicados na carroceria e no interior. Tudo bastante visível, mas não espalhafatoso. O estilo ficou, quem sabe, mais para rally-chique que para raid de jipe.

No meio da tabela

Outra coisa interessante é que, diferentemente do que costuma acontecer em outras marcas, o Trekking não está entre os Argo mais caros que você pode comprar, mas sim lá pelo meio da tabela, como uma variação da versão Drive. Para que isso seja possível, pelo menos por enquanto ele só está disponível com motor 1.3 de 8 válvulas, e não com o 1.8 das versões mais caras Precision e HGT. E também só sai com câmbio manual de 5 marchas – e não com o automático de seis dos irmãos mais caros, nem com automatizado GSR dos mais em conta. Além disso, não traz de série alguns itens de conforto e, infelizmente, de segurança – como o controle de tração e de estabilidade e o assistente de partida em ladeiras. Com isso, ele custa a partir de R$ 59,9 mil.

Não vou gastar muito espaço deste post (nem do vídeo) falando do projeto, da boa ergonomia e do acabamento desse carro. Não faz muito tempo, avaliei juntas três versões do modelo e você pode conferir esses detalhes naquele episódio, aqui mesmo no blog e na TV Rebimboca. Em relação àqueles, além da parte estética, por ser mais alto, o Trekking tem um comportamento um pouquinho diferente – sem que isso implique em perda de estabilidade ou coisa do gênero. Isso porque, além dos 3 centímetros a mais, a suspensão ganhou uma calibragem um tantinho mais firme, suficiente para manter a boa performance do Argo nas curvas. Com bancos macios e pneus (mistos, terra-asfalto) de perfil alto, ele é um carro bem confortável, também.

Embora não tenha dirigido o carango em uma estrada de terra ou algo assim, levei-o para passear em antigos caminhos cariocas - incluindo ruas calçadas com pedras do tipo pé de moleque e desníveis dignos do trânsito de carroças e carros de boi. E procurei testá-lo em obstáculos mais comuns, como lombadas e meios fios – além do igualmente acidentado asfalto de boa parte das ruas do Rio. Em nenhuma dessas situações nada passou sequer perto do fundo do Trekking ou abalou o conforto dentro dele. Os pneus de uso misto, mais resistentes que os comuns, ajudaram a reforçar essa sensação de tranquilidade na selva urbana.

Avaliação subjetiva

Não quero parecer pretensioso, mas, depois de tantos anos avaliando tantos carros diferentes, dos mais variados tipos, estilos e preços, acho que aprendi a identificar neles algumas coisas que vão além do que está descrito nas fichas técnicas, nos folhetos e propagandas da TV, nas matérias dos colegas jornalistas e no blá-blá-blá dos vendedores. Algo que, com as devidas “desproporções”, poderíamos chamar de alma.

Em alguns automóveis, meio sem personalidade própria, essa alma é quase imperceptível. São carros que podem ser até muito bons, mas despertam em quem gosta de dirigir uma sensação parecida com a de pegar um bom elevador. Em outros, essa alma é marcante e se revela sem timidez logo nas primeiras voltinhas que se dá.

Por outro lado, ter uma personalidade – e uma alma – fortes e evidentes não faz com que nenhum carro seja consequentemente bom. Eu não me surpreenderia se algum dia descobrisse um inferno automotivo, para onde os veículos perversos, cheios de personalidade fossem enviados depois de sua maldosa passagem pelas estradas terrenas.

O fato é que um bom automóvel com alma é algo digno de nota e, geralmente, também o tipo de carro que vai fazer você sorrir e se lembrar dele depois de dirigir, como se vocês tivessem compartilhado “juntos” de uma experiência. E esse Argo com motor 1.3 girador e de ronco afinado, câmbio manual (de curso um tanto longo demais e algo mole), suspensão um pouco mais firme e faixa pintada sobre o capô – sim, isso é muito importante – é, definitivamente, um carrinho com alma. Mesmo com as imperfeições, faltas e defeitinhos que ele possa ter – e tem. Guiá-lo e, sobretudo, acelerá-lo foi quase tão divertido como um bom papo com um velho amigo.

Por isso, entre todas as versões do hatch da Fiat, se hoje eu fosse comprar um Argo, seria esse. Não é o mais potente, ou o mais equipado, não traz os providenciais controles de tração e de estabilidade, nem o assistente de partida em rampas. Mas é, definitivamente, entre eles, a melhor “companhia” para quem gosta de dirigir.

FIAT ARGO TREKKING 1.3 flex

Ficha técnica (gasolina/etanol)

Dados da fábrica

Motor: Transversal dianteiro, 4 cilindros, 8 válvulas, 1.332 cm³

Potência máxima (cv): 101/109 a 6.000/6.250 rpm

Torque máximo (kgfm): 13,7/14,2 kgfm a 3.500 rpm

Câmbio manual com 5 marchas à frente

Tração dianteira

Freios: dianteiro a disco sólido, traseiro a tambor

Suspensão: dianteira tipo McPherson, traseira por eixo de torção com rodas semi-independentes

Direção com assistência elétrica

Rodas: 6” x 15”, pneus: 205/60 R15”

Peso: 1.130 kg

Dimensões (mm):

Comprimento 3.998, largura 1.724, altura 1.568

Distância entre eixos 2.521

Vão livre do solo: 210 mm

Altura mínima do solo: 187 mm

Ângulo de ataque: 21°

Ângulo de saída: 31,1°

Capacidades (litros):

Porta-malas: 300

Tanque de combustível: 48

Desempenho:

Velocidade máx. (km/h): 169/173

Aceleração 0 a 100 km/h: 11,6 s / 10,8 s

Consumo (km/l): cidade: 12,1 / 8,5 km/l

estrada: 13,5 / 9,6 km/l

Preço: a partir de R$ 59.990

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