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A nova frota de navios cegonha da BYD é sinal dos tempos 

Montadora chinesa começa a operar com a primeira de oito embarcações com capacidade para transportar sete mil veículos e chegar aos quatro cantos do planeta.


Por Henrique Koifman





Você olhou a foto do navio acima, abrindo este post da Rebimboca, e pode ter pensado: “xi, o editor se enganou, isso não tem nada a ver com carros”. Pois tem, sim, e muito – ou melhor, muitos: esta embarcação gigante aí, com um design digno das galochas dos anos 1960, leva em seus porões sete mil veículos, todos eles híbridos e elétricos, com cheirinho de novo, recém-saídos das fábricas da montadora BYD na China.


Ou seja, trata-se de um navio cegonha – lembrando que, aqui no Brasil, ave pernuda batiza originalmente as carretas que transportam os carros novos, numa alusão às que simbolicamente trariam os bebês recém-nascidos. E o fato de a BYD resolver operar sua própria frota de embarcações desse tipo – serão ao todo oito deles, que durante os próximos dois anos – ilustra bem o momento que montadora chinesa vive hoje, como a maior produtora de veículos eletrificados do mundo. Em 2023, a marca vendeu um total de 3,02 milhões de veículos, tendo exportado 242.765 unidades a partir de sua China natal praticamente todos os continentes.



Será que o carro elétrico vai mesmo “pegar”? Enquanto você pensa, ele já “pegou”




Pois é, enquanto até hoje a gente escuta gente séria por aí, questionando o “se o carro elétrico teria futuro”, empresas como a BYD provam que ele já é uma realidade no presente. Hoje, a empresa produz apenas modelos 100% elétricos ou híbridos do tipo plug-in (com baterias recarregáveis em tomada) e, como ela, outras montadoras chinesas seguem na mesma direção. Além de seu fortíssimo mercado local, elas miram os de outras regiões do mundo, se aproveitando da grande demanda por esse tipo de veículos; demanda essa que, aparentemente, as montadoras ocidentais tradicionais não têm capacidade (e/ou intenção) de atender – ao menos na velocidade e pelo preço que os consumidores esperam. Acima, o GWM Ora 03, já vendido no Brasil.


Sim, as baterias de íon de lítio são caras e podem representar (mais) um problemão em termos de sustentabilidade socioambiental. Mas elas não são – e dificilmente serão – as únicas ou sequer as principais armazenadoras de eletricidade que um veículo elétrico pode utilizar. Lembram dos modelos a hidrogênio, que Honda e Toyota já mantêm em linha faz um tempo? Pois, independentemente do que usam como fonte energética, eles são basicamente veículos eletrificados, movidos por motores exclusivamente elétricos. E há outras soluções, inclusive com tipos mais baratos e sustentáveis de baterias, em desenvolvimento.


Sim a quantidade de pontos de recarga para os carros e mesmo a capacidade das cidades para que pontos sejam instalados em todas as garagens residenciais ainda é limitada e a capacidade de geração de energia limpa, na maioria dos países, ainda é insuficiente. Mas os pontos de recarga vêm se multiplicando muito rapidamente, assim como a quantidade de fazendas solares e eólicas (para ficar apenas nas fontes mais conhecidas). No Brasil, por exemplo, o cenário nesse sentido é impressionante. Aqui, aliás, temos talvez as melhores condições no mundo inteiro para nos tornarmos totalmente sustentáveis em termos de geração de energia – do que, aliás, já estamos muito próximos e há muitos anos.





BYD Dolphin: modelo já é o elétrico mais vendido no Brasil - divulgação



Isso quer dizer que os carros elétricos serão maioria em breve no Brasil?


Acho isso muito improvável. Mas é bem provável que os chamados eletrificados – incluídos aí os modelos híbridos, simples e plug-in – se tornem maioria entre os modelos novos produzidos e vendidos daqui a algum tempo.


Por outro lado – e como comentei, pela primeira vez, há uns cinco anos –, é certo que, no segmento de modelos compactos e subcompactos “de entrada”, de vocação urbana, eles venham, sim, a se tornar maioria. E, neste caso, está cada vez mais evidente que esse segmento será (na verdade, já é) amplamente dominado por marcas chinesas.



Sobre o navio cegonha da BYD


Batizada de “Explorer nº1”, a embarcação foi oficialmente entregue à BYD no dia 10 deste mês, no porto de Yantai, na China. E zarpará nos próximos dias para sua viagem inaugural, já com carros em seus porões, de Shenzem, também naquele país.





O navio tem cerca de 200 metros de comprimento e, segundo a empresa, traz embarcada tecnologias de ponta de engenharia naval e de sustentabilidade. Ele é equipado com um sistema de propulsão que combina o combustível tradicional (bunker, derivado de petróleo) com gás natural liquefeito. Além disso, empregam baterias de armazenamento de energia da BYD, que utilizam tecnologia criada pela própria marca, e sistemas de geradores de energia acoplados aos eixos do motor, de forma a reduzir as emissões totais do navio.


O interessante é que, segundo a BYD, a nova frota de navios cegonha não transportará apenas os veículos produzidos pela marca, mas poderá também carregar produtos de outras montadoras chinesas, em esquema de parceria aberta.


No Brasil, a BYD já conta com três fábricas – dedicadas à montagem de veículos comerciais, ônibus e sistemas de geração fotovoltaica – e, em breve, passará a produzir carros de passeio na antiga unidade da Ford, na Bahia. Modelos esses que serão complementados em sua linha por outros, vindos de sua matriz chinesa, a bordo desses navios gigantes.

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